Há alguns anos, tenho vontade de compartilhar minha história com vocês. Porém, a dor que eu passei foi tão grande que era difícil sequer imaginar a possibilidade de revivê-la, ainda que na escrita. Além disso, como descrever algo indescritível? Mas vamos lá… Se a minha experiência pode ajudá-lo de alguma forma, todo esforço vale a pena.
Bem, tudo começou na infância. Creio que os sintomas em si começaram por volta dos 12 anos de idade, mas a raiz do problema já existia há muito tempo. Não pretendo entrar em detalhes quanto à causa do problema, por respeito às pessoas envolvidas, mas posso garantir que a raiz da minha depressão está lá na infância, no lar. Mesmo tão nova, eu já apresentava sintomas como tristeza profunda, agitação, distúrbios do sono, falta de concentração e pensamentos mórbidos.
Aparentemente tudo começou com uma fobia social. A timidez sempre esteve presente na minha vida, mas de repente ela se tornara patológica. Medo irracional e excessivo de ser julgada e passar por constrangimento público, fuga e isolamento social, ansiedade crônica e antecipatória, choro ocasionado por constrangimento, alterações fisiológicas em situações sociais, como tensão muscular, voz trêmula, mal-estar abdominal, falta de ar, boca seca, palpitações, “branco” e tantos outros sintomas haviam se tornado corriqueiros.
Lembro bem quando comecei a mudar meu comportamento. A primeira a perceber foi uma colega de escola. Percebendo que eu estava mais quieta do que o normal, questionou o motivo. Sem conseguir explicar, fui me fechando cada vez mais, a ponto de as amigas mais próximas não mais questionarem ou estranharem, como se aquela mudez fosse um traço normal da minha personalidade. Logo, lá estava eu invisível para o mundo exterior, com uma doença interior invisível, que nem os mais próximos conseguiam enxergar.
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Assustada e angustiada com a situação, insisti com meu pai para mudar de escola. É lógico que ele relutou, pois faltava só um ano e meio para concluir o ensino fundamental na escola onde eu estudara desde os quatro anos de idade. Mas, mesmo sem entender direito, por fim cedeu.
Obviamente, o problema não se resolveu, mas não por falta de novos colegas que tentassem me compreender e ajudar. Admiro a bondade e persistência de alguns deles. Em vez de me discriminarem e isolarem logo de cara, como geralmente acontece com pessoas tímidas, tentaram me entender e enturmar, mas sem sucesso.
Imaginem uma adolescente muda, sem amigos, constantemente escondida no banheiro da escola. Essa era eu.
Na igreja, que eu frequentava desde sempre, uma única boa samaritana, adolescente como eu, também tentou ajudar, mas em vão. Afinal, como me entender e ajudar se eu nem mesmo conseguia falar? Se eu tentasse falar, logo começava a chorar. E como eu não queria chorar em público, era melhor ficar calada.
Além disso, dizer o quê? Minha mente era um grande emaranhado de pensamentos e sentimentos turbulentos. Um imenso nada. Nem eu me entendia. Redação, pra mim, era a pior matéria. Parecia impossível exteriorizar meu íntimo. Levava horas para redigir um único parágrafo. Cada narração e principalmente dissertação era um parto. Chorava só de pensar na possibilidade de ter que transformar aquele monte de impressões desconexas em frases coerentes.
E os adultos, onde estavam? A maioria, ocupados demais, alheios, insensíveis. Alguns, interessados, mas limitados. Lembro bem de dois professores, que me surpreenderam. Um, olhando nos meus olhos, questionou meu comportamento incomum. Pra variar, devo ter ficado muda ou respondido que não era nada. Provavelmente fiquei tão nervosa que não lembro da pergunta nem da resposta. Ficou por isso mesmo. O outro, após demonstrar preocupação para a minha mãe, já que eu fugia de todos os trabalhos escolares orais e em grupo, me encaminhou para outro responsável, que me assistiu chorar compulsivamente, fez algumas perguntinhas básicas (sem respostas satisfatórias), ofereceu água e só.
Era assustador. Eu, invisível, infeliz, impotente, em meio a uma crise emocional incomensurável. Indescritível…
(Em breve, continuação. Aguarde…)